Por Dr. Danilo Höfling (*)
A despeito de campanhas educativas, o aumento da obesidade infantil, que está ocorrendo tanto em países desenvolvidos quanto no Brasil, é alarmante. No Brasil, a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) em 2008/09 mostrou que houve um aumento expressivo no número de crianças entre 5 e 9 anos com excesso de peso ao longo de 34 anos. Em 1974/75 foi observado que 10,9% dos meninos estavam com o peso acima da faixa considerada saudável pela Organização Mundial da Saúde (OMS), enquanto, no biênio 2008/09, esse número foi de 34,8%, dos quais 16,6% deles eram obesos. Já nas meninas, 8,6% delas se encontravam com excesso de peso em 1974/75, ao passo que, em 2008/09, esse valor subiu para 32%, com 11,8% de obesas.
Esses números deixam claro que o aumento do número de crianças e adolescentes fora da faixa de peso saudável no Brasil é muito preocupante. Este aumento da obesidade infantil é motivo de muitas discussões. A causa para essa situação é ainda desconhecida, uma vez que a obesidade é uma doença multifatorial que envolve fatores genéticos, culturais, ambientais, socioeconômicos, psicológicos, dietéticos e endócrinos.
A constatação de um rápido aumento da prevalência da obesidade em pouco tempo – período muito curto para qualquer mudança genética significativa – sugere que a elevação das taxas de adiposidade é um produto da interação entre predisposição genética (relacionada à facilidade natural do organismo de estocar gordura) e mudança ambiental (baixa atividade física e alta ingestão calórica), que é cada vez mais permissiva para a expressão de uma tendência genética. Outros fatores, entretanto, podem estar associados.
As implicações do sobrepeso e da obesidade infantil são graves, pois se trata de doença crônica que, além de apresentar inúmeros riscos à saúde, também envolve problemas estéticos. Em um momento em que, conceitualmente, o belo significa ser magro e com formas bem delineadas e corpo atlético, a gordura excessiva está completamente fora do conceito estético padronizado, tornando a vida do obeso muito mais difícil.
Entre os mais afetados por esse padrão vigente de beleza encontram-se as crianças e os adolescentes obesos, nos quais são, frequentemente, encontrados problemas psicológicos e desajuste social. Desde cedo, as crianças obesas começam a sofrer agressões psicológicas e a ser alvo de discriminações. As crianças sentem-se infelizes com sua gordura, são rejeitadas pelos colegas, esquecidas na hora do recreio e, muitas delas, respondem com comportamentos agressivos e, por isso, acabam ainda mais isoladas. Estas experiências podem levar à depressão, baixa estima e outras disfunções emocionais.
No entanto, o impacto vai muito além dos problemas de ordem emocional. Nas crianças e adolescentes obesos ocorre, com maior frequência, o desenvolvimento de dislipidemia (aumento de colesterol e/ou triglicérides), além do risco de intolerância à glicose. Além disso, a obesidade também é a principal causa da hipertensão arterial em adolescentes e responsável por aumento das enzimas do fígado, que estão associadas à esteatose hepática (gordura no fígado), hepatite gordurosa, fibrose gordurosa ou cirrose.
Outra grave implicação é que diversos dados indicam que sobrepeso na infância é o primeiro indício da história natural da obesidade. É muito comum que as crianças com sobrepeso tornem-se adultos obesos. Quanto maior é a idade das crianças, mais acentuada é a chance de elas se tornarem adultos obesos.
Dessa forma, é imperativo que todos os esforços sejam realizados no sentido de evitar a progressão da obesidade infantil para a obesidade adulta, pois se trata de doença crônica de controle extremamente difícil, cuja recidiva é uma regra. O maior problema é que não se vislumbra uma mudança nessa tendência de aumento de sobrepeso e obesidade em curto e médio prazos. Recomenda-se, assim, que os pais procurem profissionais experientes para lidar com o problema, como endocrinologistas, nutricionistas e psicólogos.
A família, vale ressaltar, desempenha papel fundamental no tratamento, e os melhores resultados são obtidos quando todos se empenham na missão de ajudar a criança ou o adolescente obeso. É muito mais difícil quando outros membros da família são magros e podem comer mais permissivamente, especialmente os irmãos, o que torna complexa a administração desse problema. Claro que não é uma tarefa fácil. É preciso muita disciplina do paciente e da família, mas os pais devem encarar esse problema em prol da saúde e da felicidade de seus filhos.
(*) Formado pela PUC de Campinas, em 1986, com especialização em Endocrinologia e Metabologia no Hospital das Clínicas da FMUSP e ampla atuação em procedimentos estéticos, dr. Danilo Höfling também é doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina da USP. Integra a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a Sociedade Brasileira de Medicina Estética, a Union International de Médicine Esthetique, a Sociedade Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica e a American Society for Laser Medicine and Surgery.