Esta reportagem está muito bacana e foi originalmente publicada no site “O mundo é delas”
Dina Barile, de 63 anos, conhece 140 países e é a única mulher brasileira, até o momento, que conhece a estratosfera.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o mundo conta com 193 países. No entanto, para Dina Barile, de 63 anos, de São Paulo, todos esses destinos não são suficientes. Por isso, a aventureira decidiu ir além de muitas fronteiras, sendo a primeira – e única mulher brasileira, até o momento – a conhecer a estratosfera. Hoje, são 140 países conhecidos.
“Eu sempre sonhava com a lua, principalmente na época que o homem já ia para o espaço. Até apareceram os voos comerciais, mas eram muito caros. Comecei a pesquisar mais e fui em uma palestra do astronauta Marcos Pontes. Ele falou que tinha uma agência de viagens de aventura, então entrei no site e vi essa da estratosfera. Era bem mais acessível. Também tinha a viagem de gravidade zero, e fiquei interessada nas duas”, detalha a viajante.
No entanto, como Dina é uma mulher que não para, quando recebeu a notícia que poderia ir nas duas experiências de uma vez, teve que adiar uma viagem para Madagascar que havia planejado com o namorado. “Fiz uma visita de reconhecimento de voo no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) com o Marcos Pontes, para lidar com peso corporal acima do que estava acostumada. Quando chegou a mensagem, saí de Madagascar e fui para a Rússia”, complementa a aventureira, que fica, em média, três semanas em cada destino.
Primeiras aventuras
Marrocos foi a primeira parada de Dina, em 1978, quando decidiu se aventurar no mundo sozinha. “Eu tinha férias uma vez por ano. Viajava sempre neste período, desde o primeiro dia, e só voltava quando tinha que trabalhar de novo. Fui em uma excursão à Israel e ao Egito em 1989. Eu sempre gostei de lugares exóticos, então aproveitei a passagem e fui para o Marrocos. Nem imaginei que fosse tão perigoso e agressivo naquela época. Eu voltei pra lá ano passado e já está bem mais civilizado”, pontua.
Sua paixão por viagens não é de família, mas pode-se dizer que a vontade de se aventurar já estava enraizada em seus planos. “Para mim, eu tinha que me formar para conseguir viajar. Nunca tive dinheiro. Foi em minhas primeiras férias do primeiro emprego que consegui realizar esse desejo” relembra.
O destino foi a Itália, em 1987, onde moram os avós maternos. Nesta viagem, foi acompanhada por sua mãe, que há 30 anos não via seu pai.
“Minha mãe até queria viajar, mas não tínhamos condições e ela não queria deixar meu pai sozinho. Naquela época, quando decidimos ir para a Itália, ela gostou bastante. Foi a única vez que vi a minha avó materna”, relata.
Mudanças durante o tempo
Mais de 40 anos desde sua primeira viagem, Dina Barile compara as épocas anteriores com os dias atuais, quando se trata de conhecer novos lugares. “Não tínhamos internet, nem fonte de consulta. Fui bem aventureira mesmo. Não sei nem como eu viajava sem nenhuma base. Hoje, você pesquisa e já aparece as resposta. É bem mais tranquilo para quem quer viajar sozinha”, avalia.
Um exemplo de facilidade abordado por Dina é a questão cambial. Atualmente, é possível fazer transações, comprar no cartão de crédito e realizar saques no próprio destino. Há 30 anos, o processo era realizado somente com dinheiro físico.
“Fui assaltada várias vezes por conta dessas dificuldades. Em uma dessas ocasiões, até meu passaporte foi junto e tive que lidar com grosserias do consulado brasileiro de Marseille, na França, que afirmava dar segunda via somente para morto. Parecia que eu ia para uma guerra. Tinha que prever todas as situações e como sair delas. Era até uma questão de sobrevivência”, afirma.
Situações constrangedoras
Mulheres que viajam sozinhas passam por situações incômodas que usualmente homens não sofrem, conforme avalia Dina. Assédio sexual, abuso e tentativas de ser “passada para trás” fizeram parte de alguns roteiros da viajante.
“Uma vez, eu queria juntar dois tours na Bolívia. O guia me falou que as estradas estavam interditadas e que, quem desejasse, poderia fazer o roteiro de barco, contudo, por um preço bem maior. Quando foi para acontecer o passeio, disseram que o barco não ia mais rolar e que iríamos fazer pela estrada mesmo, mas não devolveram o dinheiro. Já fui deixada no deserto, já mentiram para mim dizendo que tinha direito a duas diárias com refeições inclusas, mas que não era verdade. Já passei por muitas coisas”, declara.
Quando o assunto é assédio sexual, situações mais complicadas foram encaradas, como conta a turista. “Uma vez, um guia de Marrocos queria saber onde eu estava hospedada. Me acompanhou até o meio do lugar e queria entrar comigo, mas falei que estava com minha mãe doente no quarto, o que era mentira. Ele ficou lá por mais de uma hora me esperando”, conta.
Por isso, Dina Barile recomenda que as viajantes fiquem hospedadas em empreendimentos de, no mínimo, três noites. “Fiquei em locais baratos, mas é bom pegar um lugar mais tranquilo. Além disso, é bom falar inglês, pelo menos algumas palavras. Tem que estar preparada. Sem saber o idioma, é necessário contratar um guia de turismo”, aconselha a viajante, que é fluente em inglês, italiano e possui conhecimento básico em espanhol.
Dicas de destinos
Dina acredita que não sirva de parâmetro para aconselhar outras mulheres da terceira idade para visitar destinos, já que o que lhe atrai é justamente a aventura e o exótico. “Eu gosto de deserto, vulcão. Uma vez, estava em San Andreas sozinha e estava tendo um furacão. Não tinha nem funcionário no hotel. Não é todo mundo que gosta deste tipo de viagem”, brinca.
Mesmo assim, frente a todas as experiências já vivenciadas, Dina considera que, para quem quer aproveitar de forma mais tranquila o destino, a Europa tradicional – incluindo Itália, Portugal e França – e os Estados Unidos são ótimas opções. “Os EUA não me atrai muito, porque têm cidades comuns. É bom para quem gosta de locais urbanos, de fazer compras. É recomendável, mas confesso não ser muito a minha cara”, ressalta.
Planejamento financeiro
Dina Barile afirma que seu foco é viagem e, por isso, evita ao máximo fazer gastos que não condizem com seu objetivo principal, ou seja, se aventurar em outros destinos. “Sempre fui muito econômica. Não tenho fonte de renda estável. Vivo das economias que fiz na minha vida toda. Faço uma planilha com os gastos do ano, já que não tenho uma aposentadoria boa, e vejo quanto eu tenho disponível para minhas próximas viagens”, afirma.
Por isso, a turista declara que seria ideal as interessadas em desbravarem o mundo fazerem o mesmo. “Aconselho a também fazer uma planilha, para ver quanto ganha por ano e quanto pode gastar. Uma dica que eu dou é: parcele somente se puder pagar à vista. Se tiver o dinheiro todo para pagar de uma única vez, pode parcelar, evitando qualquer sufoco. Ainda mais quem ganha uma aposentadoria boa. Se terá R$ 100 mil no ano, pode gastar R$ 30 mil em uma viagem”, avalia.
Próximos passos
Por mais que ainda faltem alguns países para chegar à totalidade da ONU, Dina afirma que “ir somente por ir” não é muito o seu perfil. Para isso, algo tem que a interessar. “Não vou só para carimbar passaporte. Se for para não fazer nada, fico em casa. A Etiópia, na África, por exemplo, é um lugar pobre, mas que tem uma cultura histórica e monumental muito interessante que me atrai”, ressalta.
Por isso, para aquelas que pensam da mesma forma, a viajante declara: “É uma outra dica que eu tenho. Vê o que pode te atrair no destino. Como disse, os EUA não me atrai, porque é voltado para compras, mais movimentado. No entanto, já fiz uma viagem bem interessante pelo interior do país, porque foi algo que me despertou curiosidade. Cada uma das mulheres tem algo de desejo. Eu me atraio pelo exótico”, diz.
Como começar
A desbravadora afirma que é muito bom aproveitar das tecnologias à disposição para dar início às aventuras que serão vividas. E aconselha: “Pesquisa na internet, coloca o roteiro que quer fazer. Tem várias dicas, uma infinidade de informação. Eu mesma geralmente consulto o Google o que fazer em certo destino e em quanto dias. Se for atrás de agências locais, é bom falar pelo menos o inglês. Caso contrário, há opções nacionais”, aconselha.
As operadoras de viagens que oferecem excursões se mostram uma opção ainda mais atraentepara aquelas que estão inseguras. “Há várias empresas muito boas, que organiza tudo aqui no Brasil. É uma possibilidade para aquelas que não querem dor de cabeça, não querem problemas. Não fala ou escreve o idioma nativo? Investe nisso”, declara.
Conselho de Amiga
Dina Barile destaca que, visto as facilidade de hoje, há muitas opções para as mulheres encararem o que o mundo oferece. “Tem grupos, tem sites, tem informação, tem agências e operadoras e tem incentivo para pessoas com mais de 60 anos. Eu acho que, para quem souber fazer uma boa poupança e puder aproveitar a aposentadoria viajando, é um momento muito bom. Os destinos se ampliaram e as possibilidades também”, afirma.
Para aquelas que não se sentem bem ao viajar sozinha, Dina declara que podem ficar tranquilas quanto a passar imagem de mulher depressiva ou solitária. “Viajar sozinha hoje em dia é visto de forma elogiosa. As brasileiras sofrem até um pouco mais pela imagem negativa que possuem no exterior, ligadas à vulgaridade. Quando sabem que é uma brasileira, já pensam em samba e carnaval. Mas nós, que já somos da terceira idade, não sofremos muito com esses estereótipos”, felicita.
Em suma, a viajante afirma que as mulheres devem se jogar: “Pegue informações do que é perigoso e do que é válido conhecer. Leia bastante antes de ir. Tem que aproveitar, porque hoje em dia a gente tem esses recursos em nossas mãos. Conseguimos saber previamente a temperatura que vai estar no destino, por exemplo. Caso ainda esteja insegura, vá com uma excursão. Eles darão o apoio necessário para você”, finaliza Dina Barile.