O Merca Troca é um pequeno projeto de internet lançado recentemente em São Paulo. Trata-se de um website que às primeiras vistas se parece com um ambiente online para vendas e trocas. E é. Mas além disso, o projeto paulistano tem a missão de, aos poucos, inserir hábitos de cultura e economia colaborativa no nosso quotidiano de um jeito muito bacana.
Basicamente, economia colaborativa (ou Economia P2P) quer dizer qualquer coisa cujo retorno seja valor. Ao contrário de uma negociação mercantil, onde o objetivo é o lucro, na economia de colaboração essas trocas acontecem porque as duas partes negociam produtos, idéias e serviços que lhes interessam mutuamente. E é exatamente aí que o Merca Troca entra.
“A quantidade de pessoas que oferece um outro produto ou serviço por aquilo que procuram é imensa, mesmo que seja mascarada por inúmeros websites país afora cujo o alvo é exclusivamente a venda de classificados. O lance do Merca Troca é o foco em vender e trocar com base no valor que as partes podem oferecer, ao invés do quanto custa cada produto, serviço, idéia… até carona vale. Se você estiver disposto a ‘doar’ algo junto na negociação, o lucro é ainda maior. E ele não vem necessariamente na forma de dinheiro, mas sim de valor. Que aliás, é aquilo que é mais caro, simplesmente porque valor não tem preço.” — explica San Picciarelli, que idealizou e colocou o projeto no ar no começo do ano.
O website conta com uma boa gama de serviços de apoio ao internauta, pode ser associado facilmente à sua rede social preferida e está cheio de grandes idéias para os próximos meses. Uma delas é o Merca Tarefas, uma espécie de missão especial onde todos podem ajudar alguém a conseguir fechar um negócio muito importante por meio de suas redes sociais e amigos.
“A idéia não é simplesmente ajudar quem precisa. É provocar todo mundo a fazer isso, com toda a força que a internet pode ter quando nos juntamos”. — San Picciarelli
Por exemplo, uma pessoa quer comprar um equipamento profissional por um motivo realmente especial e que terá um impacto muito grande em um projeto, comunidade ou sua vida, mas não dispõe de fundos. Essa “história” é contada no website e ao sensibilizar ou despertar o interesse dos Mercaderos – como são chamados os membros do site – todos saem em busca da oportunidade ideal e as melhores indicações.
A missão é então publicada pelo Twitter e em seguida vale tudo: fotos temáticas pelo Instagram, recomendações pelo Facebook, contatos no LinkedIn, vídeos no YouTube ou informações de qualquer outro canal serão acompanhados pela Merca Tarefa através de um #hashtag. Quando a meta é alcançada, uma linha do tempo é composta com a ajuda do Storify recontando a história de todas as pessoas que colaboraram, de diferentes maneiras, para o resultado final. O Mercadero é então entrevistado online e aparece em uma publicação especial.
“Um dos exemplos que eu mais gosto de citar é o do Kyle McDonald. Imagine só, um clips vermelho, por uma casa… Isso é economia colaborativa (e bastante determinação também). O Kyle fez isso viajando sozinho pelos EUA. Imagine o que podemos fazer todos juntos com a internet hoje?” — explica San porque acredita que o Merca Troca, mesmo que a passos modestos, pode se tornar uma referência na internet.
Kyle é um Canadense que trocou um pequeno clips vermelho pela casa onde mora até hoje. Em Julho de 2005 ele foi para Vancouver e fez a primeira troca, por uma caneta. No mesmo dia, em Seattle, ele trocou a caneta por uma maçaneta esculpida a mão. Dez dias depois, ele viajou para Massachussets e trocou a tal maçaneta por um fogareiro de uma boca, a gás, desses usados em camping. Em um total de 14 trocas, muitas viagens e histórias incríveis, ele conseguiu trocar um papel em um filme por uma casa de dois andares.
“O curioso é que minha carreira e meu trabalho não tem nada a ver com isso, embora eu sempre tenha feito trocas para conseguir o que eu queria quando era criança, mas não podia nem pensar em comprar. Trabalhando, todos nós conseguimos comprar as coisas. Aperta aqui, financia dali. Mas veja, até mesmo meu computador, meu smartphone e minha câmera vieram de negociações colaborativas com amigos pessoais e pessoas indicadas por eles. Com centenas de exemplos pela vida toda, não tenho a menor dúvida que qualquer um pode ter o que quiser, sem sequer gastar com preço, mas sim investindo em valor e em mutualidade” — e encerra a entrevista.
Para conhecer mais sobre o projeto acesso o site do Merca Troca. Não há custos para se tornar um Mercadero e o cadastramento de ofertas é também gratuito. O projeto contará em breve com pacotes diferenciados de incentivo, cotas de patrocínio, espaço publicitário e perfis especiais para diferentes tipos de Mercaderos.
Para conhecer a história de Kyle McDonald, acesse o seu blog “One Red Paperclip” [link] ou essa matéria [link] em português publicada no site Terra em 2006.